20 de janeiro de 2014

Entrevista - DisXease

Acredito que a reação da maioria das pessoas quando ouviram a demo do DisXease foi a mesma, entrar choque! Como pode tanta agressividade? Imagine a mistura de SSD com Confront e com o Brotherhood, imaginou? pois bem, esse é o DisXease. Com certeza uma das maiores revelações do hardcore/punk de 2013. Fiz essa entrevista com os caras nos últimos meses de 2013 onde o Pedro (guitarra), Athos (vocal) e o Xavero (baixo), contaram um pouco de como a banda começou, influencias, processo de gravação da demo, planos futuros, entre outras coisas, confere ae.



Como vocês são uma banda nova, contem um pouco como surgiu a banda e o porque do nome DisXease.

Pedro: A idéia da banda vem de muito tempo. Desde 2006 mais ou menos que eu estou tentando fazer uma banda nessa linha. Em 2007 eu tentei montar uma banda com o Pancho (Veneno Lento), Fábio Caustic (Clearview) e Pilili (Likso) que era para ser assim, mas durou uns 3 ensaios e miou. Depois fiquei com essa idéia na cabeça e uns 2 anos atrás eu e o Xavero resolvemos ir adiante, mas sempre faltava arrumar os integrantes certos. Eu queria gente que tivesse as mesmas influências, boa vontade para tocar e que tocasse direito, para não perder tempo. Então eis que surge o Rafa, como se fosse enviado diretamente dos céus. Ele mandou uma mensagem dizendo que estava vindo para o Brasil e queria tocar. Pronto, problema resolvido! Já conhecia ele há muitos anos e sabia que era um bom baterista, com excelente gosto musical, a peça que faltava. O Athos já estava envolvido na idéia, mas eu e o Xavero não sabíamos ainda o que ele ia fazer na banda. Até que nós vimos ele cantando um set de covers com o StandXHard e não teve outro jeito. O time estava montado. O nome quem inventou foi o Athos, eu acho, mas eu gostei porque é agressivo, me lembra a música do UK Subs que o S.O.A. toca na Flex Your Head e porque tem um significado político também.
Athos: O nome surgiu no meio de um chat em que estávamos todos mandando um BRAINSTORM de idéias e eis que no meu Itunes rola um Biohazard - Disease no shuffle. Eu olhei pro nome daquela música e mandei pra todos no chat, todo mundo curtiu, decidimos colocar um X no meio do nome e assim ficou. Não é nenhuma homenagem ao Biohazard, mas a origem do nome no final das contas foi essa.

Quando eu ouço o som de vocês as duas primeiras bandas que vem na minha mente é o Confront e o SSD, falem um pouco mais sobre as influencias da banda. 

Pedro: Para mim é até difícil falar de influências específicas. Quando eu componho as músicas elas vem quase que naturalmente, como uma síntese do tipo de som que eu cresci ouvindo, que é o que tinha de mais agressivo e grosseiro no hardcore americano dos anos 80. Principalmente coisas de Boston, NY e Detroit. Quando eu tinha uns 16 anos eu pegava os CDs da Lost & Found, uma gravadora pilantra que relançava todos os clássicos mais obscuros e ouvia até gastar. Acho que o som da gente vem desses discos. Principalmente as coletâneas. Para mim a coisa vem mais ou menos daí, desde coisas de 82, 83 como SSD, FU’s, Deathwish, The Fix, State, Urban Waste, as bandas mais rápidas e agressivas da geração youth crew, tipo Brotherhood, Straight Ahead, Confront, No For An Answer, Carry Nation, o próprio Youth Of Today e NYHC clássico, especialmente o comecinho do Agnostic, Antidote, etc... E também umas coisas tipo Infest e Citizens Arrest. Até mesmo um Discharge aqui e ali. Já ouvi muito hardcore na vida, eu sei o que eu gosto, mas vem tudo misturado.
Xavero: Eu escuto todas essas bandas desde sempre, sempre foi o foco fazer um som bruto. Além desses clássicos que a galera sxe gosto, eu amo Infest, Crossed Out e essas bandas mais barulhentas e rápidas, com certeza isso também serviu de influência pra mim.
Athos: Eu em particular creio que o Confront e o SSD são as bandas que mais me influenciam pra tocarr no DisXease. Não posso negar um pouco de Infest e Straight Ahead também, mas em especial o Confront é a banda que eu mais me inspira no DisXease.

Contem um pouco como foi o processo de criação e gravação do primeiro registro de vocês 

Pedro: O Rafael está sempre viajando e pageando bandas que vêm tocar aqui. Por isso o tempo dele é meio curto, então fizemos o seguinte: primeiro ensaiamos duas vezes lá para maio e fizemos as duas primeiras músicas, depois, em agosto, pegamos umas duas semanas e fizemos mais uns 7 ensaios. Alguns só eu e ele, alguns com o Xavero, outros com o Athos e uns 3 com todo mundo junto. Foi difícil conciliar o tempo de todo mundo, mas nessas duas baterias de ensaio nós fizemos as 6 músicas da demo. Algumas delas foram bases que eu reciclei de bandas antigas minhas que não deram certo, mas a maioria nós inventamos ali mesmo. Depois o Rafael foi viajar e quando voltou nós marcamos uma sessão de gravação para ele matar de uma vez as baterias do DisXease e das outras bandas que ele montou, o B’URST e o StandXHard. Gravamos tudo e eu mixei em casa.
Xavero: Pedro comandou tudo e ficou foda.



Alguma história que queiram compartilhar, tipo a história da musica Authority? 

Pedro: As letras que eu fiz não têm histórias específicas, mas “No Escape” fala sobre a ilusão que algumas pessoas têm de que podem simplesmente abandonar o capitalismo e viver fora do sistema e como isso só faz esse sistema se fortalecer e “No Man’s Land” fala sobre a guerra, uma das maneiras que esse mesmo sistema usa para se manter de pé e como hoje em dia não faz sentido escolher lados, fora o lado dos oprimidos de todos os países.
Athos: Em um dos ensaios que fizemos eu estava no caminho pro metrô e fui parado por policiais militares por uns 10 minutos. Eu moro numa região um pouco privilegiada mais conhecida como Cracolândia. Aqui é meio comum isso acontecer. O que me dá mais ódio é perceber que autoridades em geral abusam do seu poder sobre nós e não temos nem o direito de fazer algo sobre. Por exemplo, não podem ver um cara com a pele mais escura andando num bairro perigoso e já te julgam como marginal ou coisa pior. Outro exemplo disso foi o nosso amigo Bruno, o qual foi preso com acusações gravíssimas num protesto contra o aumento da tarifa do transporte público sem ter feito absolutamente nada do que os policiais alegaram. A autoridade os dá direito de se sentirem acima de qualquer um. E esses foram alguns dos motivios que me fizeram escrever a letra de Authority. A.C.A.B.

Essa primeira demo de vocês nem saiu versão física ainda mas já está fazendo um sucesso estrondoso. Como está sendo o retorno do publico para vocês em relação as expectativas? 

Pedro: Estou meio chocado ainda, tinha ficado empolgadasso com a qualidade das músicas, mas não esperava tanto retorno em tão pouco tempo! Nós nem tocamos ao vivo ainda e já rolou esse bafafá na internet. O mais legal é que é pela qualidade mesmo, eu acho, fora do Brasil a maioria das pessoas que ouviram e comentaram mal sabe que nós tocamos em outras bandas. Outro dia a página do Brotherhood compartilhou a demo. Não sei quem cuida é alguém que tocou na banda, mas mesmo assim fiquei de queixo caído, hahaha.
Xavero: To de cara mano, sei la, a gente já tá envolvido nisso tem um tempo, sempre rola um retorno dos amigos, mas dessa vez foi um retorno de gente que eu nunca imaginava, pessoas que estavam distantes da nossa realidade.
Athos: Sendo bem sincero eu não esperava 1/4 do feedback que a gente teve. Eu imaginei que no máximo meus amigos e alguns amantes de hardcore sujo e agressivo fossem apreciar. Mas a coisa toda foi assustadora em um nível internacional, coisa que me deixou muito orgulhoso de fazer parte da banda. Quando você não tem expectativa nenhuma e consegue "tudo" rola uma sensação inexplicável e é assim que eu me sinto em relação ao DisXease.


Todos vocês estão envolvidos em outras bandas ativas na cena hardcore de são paulo, falem um pouco sobre elas. 

Pedro: Eu toquei muito tempo no I Shot Cyrus, no B.U.S.H e toco na continuação do B.U.S.H., o Futuro. É uma banda bem diferente do DisXease, um punk rock não tão acelerado com influências de bandas da SST dos anos 80, uns skatepunks e coisas mais antigas. Esse punk rock mais “doido” é outro tipo de som que eu amo, tanto quanto o hardcore mais grotesco. Não separo muito a música em categorias rígidas assim. Para mim esse universo do punk/hardcore começa no garage dos anos 60 e vem até o lado mais extremo do hardcore atual e ter mais de uma banda me dá a chance de explorar sentimentos e idéias diferentes dentro desse universo.
Xavero: Como o Pedro disse, eu também não coloco barreiras dentro do hardcore e da música. Eu estou sempre envolvido com outros projetos, ultimamente tocando coisas totalmente distintas do hardcore, mas com uma postura bem próxima. Tenho um projeto de música experimental "Dikina", tocamos bem pouco, mas é uma parada que eu curto muito, misturando noise de guitarra, eletrônicos e bateria. Além dessas doideras, tenho o Still X Strong, La Revancha, Duo e o Metade Melhor, uma banda de powerviolence, uma meio grind, uma de punk rock meio emo e outra de hardcore pesado, mais mosh. Eu na real curto som, não separo nada, isso só me faz bem e tocar é a melhor coisa do mundo. Claro que várias bandas são projetos e outras são as que eu levo compromisso, mas isso sempre depende dos outros integrantes também
Athos: Eu toco com o Xavero no Still X Strong, que é uma banda Vegan Straight Edge com um som mais pesado na linha de bandas dos anos 90 como o Strife, Path Of Resistance. Também toco no Inner Self, que também soa como bandas dos anos 90, mas num outro estilo, onde tentamos soar como Leeway, Breakdown, Killing Time e Crown of Thornz. Eu também toco no Stand X Hard, que soa como o lado positivo do hardcore youth crew, mas não temos nada gravado ainda.

Quais são os próximos planos da banda? Por vocês terem outras bandas o DisXease vai ser mais um projeto paralelo ou será uma banda regular mesmo? 

Pedro: Por mim é uma banda mesmo. Havendo disponibilidade do resto eu quero levar a coisa adiante e fazer tudo o que a gente conseguir. Depois da demo, acho que o próximo passo é tocar ao vivo e depois tentar fazer um vinilzinho quem sabe...
Xavero: Na real eu quero que o DisXease se torne uma banda mesmo, tocando regularmente e produzindo. Eu sempre toco com o athos, sei que ele tem a cabeça parecida com a minha pra banda, se depender da gente, nós tocamos em todos os buracos de SP e do mundo, hahaha



Acesse: Bandcamp / Facebook / Thinking Straight Records

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